Capítulo Dez
Madison
Acordo com o telefone tocando. Apalpo na esperança de alcançar o
telefone fixo que está na mesinha de cabeceira, infernizando minha vida a essa
hora.
— Alô.
— Oi, Mad. É o Ben. Como está se sentindo?
— Estou bem.
— Eu preciso de um favor, Madison.
— Diga – isso não é hora de favores.
— Tenho um evento para ir amanhã à noite. E gostaria que você me
acompanhasse.
— Convida Alyssa, Ben.
— Ela não poderá. Por favor, Mad.
Tem como negar alguma coisa para esse homem lindo, pedindo desse jeitinho?
Claro que não.
— Ok. Que tipo de roupa?
— Black-tie. Eu passo para te
pegar entre sete e meia e oito horas. Tenho uma audiência preliminar às seis,
provavelmente sairei de lá, seis e quarenta.
— Você ficará me devendo, Benjamin.
— Será um prazer te compensar – ele fala rindo — Beijos, Mad. Até
amanhã.
— Beijo, doutor Graham.
Vou até o meu armário ver o que tenho para essa festa. Tenho roupa para
cada ocasião que uma pessoa precise ir. Não que eu vá em algum lugar, mas gosto
de estar sempre preparada. Comprei alguns vestidos para ir com Ben a esses
eventos, mas nenhum era de gala e esse de manhã, é black-tie.
Olho para o relógio e vejo que é tarde da noite. Esqueci de ligar para a
Rebecka para avisar que me dei folga.
Volto para a sala para usar o telefone. Tenho que dar um jeito de buscar
minha bolsa no clube. Disco o número do clube rapidamente.
— Secret Garden, boa noite –
uma voz masculina atende. De quem é essa voz poderosa?
— Oi. Eu gostaria de falar com a Rebecka Lamarque.
— Telefone errado, moça – esqueço a discrição com nomes. Droga!
— Seja quem for, eu sou a Madison, barwoman
do Secret Garden. Preciso falar com a
Becka.
— Oi, Mad – virgi! Desmunhecou de vez — É o Pierre.
— Pierre, de onde saiu aquela voz? – ele é um dos dançarinos de pole dance.
Sim, há homens que gostam de vê-lo dançando junto com as meninas.
— Saiu do útero, minha filha – ele fala rindo — Estou te passando para a
poderosa – mais gay, impossível.
A música do ramal me impressiona, com uma batida sexy e pesada.
— Oi, Madison – Becka atende — Onde você se meteu, menina? Quer me matar
do coração? Estou há horas tentando ligar no seu celular.
— Minha bolsa com o meu telefone, estão aí no clube desde ontem. E hoje
não passei muito bem.
— O que anda acontecendo, Madison? – ela pergunta preocupada.
— Nada. Quero pedir desculpa por hoje. Vim embora do escritório mais
cedo, mas acabei pegando no sono. Rebecka, você me conhece, sabe que não sou
relapsa com o meu trabalho.
— Calma. Noah esteve aqui e disse que você deveria não estar bem. Só que
ele estava bem preocupado com você também. Acho que somando suas férias e suas
folgas que nunca pegou, você tem mais de dois meses.
— Preciso de outro favor. Ben me pediu para acompanha-lo a um evento
amanhã.
— Eu sei. Você está liberada – ela me interrompe. Eu vou matar o
Benjamin!
— Obrigada. Outra coisa, eu preciso de um vestido e sei que tens uma
amiga que...
— Estou indo lá no atelier amanhã. Quer ir comigo?
— Vai me deixar responder dessa vez? – pergunto rindo. Só estou
estranhando o fato dela parecer agitada. Rebecka não é assim — O que está
acontecendo, Becka?
— Estou ansiosa. Deixa para lá. Nos vemos amanhã. Passo aí por volta das
dez horas. Ok?
— Ok. Obrigada, Becka. Por favor, não esqueça de trazer minha bolsa.
— Ok. Beijos, Mad. Se cuida.
Rebecka é uma pessoa muito especial, iluminada. Uma daquelas pessoas que
tem colo para quem quiser, mas também não falta um bom puxão de orelha.
Vou até a geladeira e caço alguma coisa para comer. Não acho nada porque
não vou ao mercado há dias. Pego o telefone e disco para um restaurante chinês
aqui perto. Enquanto espero a minha comida chegar, vou até o quarto e ligo o
computador. Acesso o Google e digito, Juiz
Noah Lancaster.
Aparecem várias imagens dele, imponente como sempre. Há uma que me chama
atenção, uma foto de família. Alyssa, adolescente, magrela, cara de nerd. Dou
risada ao ver como o tempo a beneficiou, ela já era bonita, hoje, é uma linda
mulher. Só não se deu conta, ainda. Sua mãe era deslumbrante, seu pai e Noah
lado a lado, pai olhando para o filho e ambos sorrindo. Lindos, a família
perfeita.
Há também fotos dele com os
outros, incontestavelmente, lindos. Benjamin, Christopher, Rebecka e Roger.
Fotos do funeral dos seus pais e do Roger aparecem. A imagem da devastação de
Aly, corta meu coração. Noah amparando-a e também destruído, faz meus olhos
umedecerem. Logo vem as imagens de Noah sendo recebido por chefes de estado,
recebendo uma homenagem do Presidente dos Estados Unidos, por sua política contra
a violência. E por fim, as imagens dele com Carly. Caio na besteira de abrir e
a manchete é, “O ilustre juiz Noah
Lancaster e sua noiva Carly Porter, mais apaixonados que nunca. Dessa vez ele
vai até o altar...”.
A campainha toca e desligo o computador rapidamente. Pego a comida e
sento no sofá, olhando para o nada. Sou resolvida em relação aos homens, eles
são para o meu prazer, nada mais que isso. Não quero relacionamentos,
aproximações, nada... somente sexo. Essa coisa, seja o que for, que tive com o juiz,
acabou. Já passei por cima de duas regras minhas por causa dele. A primeira,
envolver-me com pessoa comprometida. E segunda, “onde se ganha o pão, não se come a carne”.
Termino de comer, jogo as caixas no lixo e vou fazer minha higiene para
dormir. Deito de barriga para cima e fico contemplando o teto. Meus pensamentos
se desvencilham de minhas rédeas e vão para Noah. Nenhum homem mexeu com o meu
corpo, como ele. As lembranças daquela noite em sua casa, voltam e meu corpo
acorda, querendo-o mais uma vez. Adormeço com um pensamento, “nenhum homem mexeu comigo quanto Noah
Lancaster”.
Rebecka não só me levou para escolher um vestido, como insistiu que
fôssemos ao salão, onde perdi boa parte do meu dia. Olhando para o meu espelho,
tenho que concordar que foi a melhor coisa que eu fiz. Acho-me interessante,
mas hoje, estou deslumbrante. O vestido longo verde esmeralda, parece que foi
feito no meu corpo. Ele parece ser frente única com um generoso decote, mas na
verdade, é aquele tecido transparente que parece com a pele. Quem olha, dá
impressão de que o vestido está perfeito, por mágica. As costas é toda aberta,
a cintura é toda bordada com pedrarias em azul, verde e branco, formando uma
espécie de cinto, que quando chega ás costas, sobe dando a impressão de uma
tribal.
A sandália é alta e o salto finíssimo, com tiras finas e trabalhadas, também
verde. A maquiagem é uma história a parte, quando vi a louca da maquiadora com
aquelas sombras dignas dos desfiles do Dia de Ação de Graças, surtei. Ela pediu
uma chance, se caso eu não aprovasse, ela retiraria tudo. Depois de horas...
Ok. Foi exagero. Depois de algum tempo, ela mostrou sua obra de arte e eu,
amei. A sombra degradê, começando com
dourado e terminando em verde. Blush discreto. A composição, realçou meus olhos
e o batom vermelho, deixou tudo ainda mais bonito.
Meus cabelos foram arrumados em uma trança “espinha de peixe” lateral. Como meus fios são longos, a trança foi
uma excelente escolha e fora o luxo que ficou.
As joias se resumem a um par de brincos exuberantes, três folhas
douradas que se misturam com uma pedra de esmeralda e uma pulseira delicada
seguindo a mesma linha. Dou uma volta na frente do espelho para ver o caimento
do vestido e sinto-me uma princesa. A campainha toca, interrompendo minha
admiração narcisista.
Pego minha pequena bolsa e desço as escadas para encontrar Benjamin
Graham mais charmoso que nunca, escorado em seu carro, esperando-me. Esse homem
com barba por fazer, é ainda mais bonito e é surpreendente o fato dele não ter
feito a barba. Ele assobia e vem ao meu encontro.
— Você conseguiu ficar ainda mais linda – beija minha mão — Boa noite,
senhorita Madison.
Faço um gesto de reverência, como a nobreza.
— Boa noite, senhor Graham.
Ele abre a porta do seu carro e entro. No caminho vou mexendo no meu
celular, vejo meus e-mails e as mensagens que não pude responder. Levanto a
cabeça e o trajeto que Ben está fazendo, já é conhecido.
— Onde estamos indo? – pergunto já sabendo a resposta.
— Estamos indo a casa do Noah.
— Isso eu sei. Só quero saber o que faremos lá?
— Comemoração do aniversário da Carly – ele fala com cautela.
E eu surto.
— O que? Enlouqueceu? – começo a mexer as mãos nervosamente — Por que
não me disse antes, Benjamin?
— Se eu dissesse, você viria?
— Lógico que não! Aquela cadela não vai deixar eu passar da porta.
Antes que eu pudesse continuar com meu chilique, Ben estaciona em frente
à casa de Noah. Ele mora em uma mansão clássica, enorme, espaço suficiente para
abrigar um pequeno vilarejo. O manobrista pega o carro e Benjamin estende-me o
braço.
— Vamos, ruiva – ele fala sorrindo.
— Minha vontade é de te matar.
Uma moça muito simpática nos recepciona.
— Boa noite, poderiam me dar o convite?
Ben retira um envelope vermelho do bolso interno e entrega para a moça,
que pisca seus longos cílios postiços para ele. Benjamin, mais que solícito
sorri e pisca para a moça que quase desmaia. O ambiente estava todo enfeitado
com rosas vermelhas. É muita paixão para um ser só.
Assim que entramos no hall, já vimos as duas escadas que contornam a
primeira sala, com corrimão de ferro todo trabalhado. O lugar é gigantesco e
muito bonito, quem a decorou tem muito bom gosto. Pensando bem, não deve ter
sido a Carly. Caminhamos até o jardim, onde tinha uma grande tenda branca
montada e a decoração extravagante, continua.
— Tão brega quanto a dona da festa – Ben fala fazendo uma careta.
— Seu amigo caprichou na comemoração da Mortícia.
Ele ri.
— Se conheço o meu amigo, ele não fez nada, apenas está de corpo
presente.
A primeira pessoa que encontramos foi Alyssa, mais desanimada que o
Benjamin. Nem parece que é uma festa. Ela está com vestido bonito, comportado,
mas elegante, só que a cor a apagou. Um rosa-pálido para uma pele branca quase
transparente, não combina. Ela nos abraça com alívio.
— Achei que não viriam mais. Estava pensando seriamente em sumir – ela
fala ajeitando seus óculos rosa-pink.
Christopher e Rebecka também aparecem. Ela está divina no vestido longo
preto, com decote canoa em renda, maquiagem esfumaçada e batom vermelho. Chris
é elegante por natureza e com aquele smocking,
ficou comestível. Ele é o primeiro a me cumprimentar.
— Essa ruiva vai me dar um infarto qualquer hora – ele beija meu rosto —
E esse perfume...
Conversamos ali durante um tempo, discutindo a anatomia do “corpo humano da galinha”. Sim, isso aí.
Não falamos nada com nada. Nisso, uma senhora uniformizada passa por nós e
Benjamin a intercepta.
— Dona Martha, fizeram a senhora colocar isso? – ele passa um braço
pelos ombros dela — Essa é Madison, a ruiva que anda tirando o nosso sono. E
que, como a senhora, prefere Noah do que a nós.
Ela ri com gosto e dá um leve tapa em seu peito.
— Menino bobo – ela vem e me abraça — Já conheço a Madison. Esteve
algumas vezes aqui com a menina Aly.
— Bom saber que os serviçais estão se divertindo na minha festa – Carly
aparece com um vestido azul “cheguei”.
Toda exagerada como a festa dela — Não lembro de tê-la convidado, Madison.
Movimento-me para sair. Eu sabia que isso não daria certo. Benjamin
passa seu braço pela minha cintura e Rebecka coloca-se ao meu lado.
— Ela é minha acompanhante, Carly. Mais respeito – Ben volta-se para
Martha, que ele ainda segurava pelo braço — O escritório está pronto para nós?
Quando a senhora abriu a boca para responder, a Mortícia se manifestou furiosa — Se quer privacidade, Benjamin, vá
para o bordel onde ela trabalha.
Ela vira as costas e se vai. Os meninos estão vermelhos, Chris tenta
afrouxar a gravata e Rebecka estava com as mãos fechadas. Alyssa visivelmente
nervosa, é a primeira a falar.
— Desculpem a louca da Carly. Becka, eu sei que você diz para não contarmos
essas coisas a Noah, mas está ficando cada vez mais complicado.
— Vocês têm que entender que há certas coisas que a gente precisa
descobrir por conta própria, enxergar com os próprios olhos. Um dia ele verá e acho que esse dia não está
tão longe assim.
Chris balança a cabeça e olha o líquido dourado do seu copo rodopiar.
— Não sei. Noah acha que ela está passando por um período difícil.
Acredita que mais cedo ou mais tarde, ela voltará ao normal.
— Outro dia ele nos contou que eles não transam há muito tempo, que tem
dormido no quarto de hóspedes – Ben fala.
A conversa das mulheres na cafeteria volta mais uma vez para me
assombrar, “o sagrado matrimônio em casa
e a puta no escritório”. Um garçom passa por mim com uma bandeja com taças
de champanhe. Pego uma e viro de uma vez só. Troco a vazia pela cheia e volto
minha atenção para o grupo, que está olhando-me atentamente.
— O que foi? Estava com sede.
Noah aparece com um copo de whisky. Assim que percebe minha presença,
sorri e eu derreto. Mulher é um bicho idiota mesmo. A imagem daquele homem
grande, moldado em um smoking feito
sob medida, com um olhar intenso e um sorriso de canto perigoso, é de fazer
qualquer mulher, mesmos as freiras, se arrepiarem.
— Boa noite, Benjamin. Achei que tinha desistido de vir – ele beija meu
rosto demoradamente — Boa noite, senhorita Harver. Você está magnífica. Como
está a mão?
Levanto-a e todos olham os pontos na lateral da mão.
— Estou bem.
— Não sabia que bebia whisky Noah – Rebecka pergunta.
Ele faz uma careta e olha para o copo.
— Não sou um admirador. Mas segundo a Carly, nada de cervejas.
Todos entreolham-se, acredito que queiram falar alguma coisa. Se conheço
bem o homem, ele não aceitaria que falassem mal da namorada, logo hoje que é o
aniversário dela. Alyssa me pega pelo braço para circularmos pelo ambiente. Os
convidados eram basicamente composto por socialites, herdeiros e políticos.
Engraçado, isso não parece fazer o tipo de Noah. Talvez eu não o conheça tanto
assim.
Alguém chama Alyssa e eu continuo a caminhar por entre os convidados,
para achar Rebecka. Entro na sala onde muitas pessoas estão conversando. Sinto
alguém tocando em meu braço e logo sou puxada para o escritório. Antes que eu
pudesse esboçar qualquer reação, Noah beija-me.
— Estava louco para beija-la – afasto-me dele — O que foi, Madison?
— Não foi nada, Noah. Só não acho certo fazer esse tipo de coisa.
— Eu estava pensando em nos encontrarmos...
Levanto a mão o parando.
— Isso não vai acontecer mais. Por sua causa, já quebrei duas promessas
que fiz a mim mesma. Envolver-me com pessoas comprometidas e não sair com
clientes do clube – ele dá um passo em minha direção e eu dou um passo para
trás — Sabe, há pouco tempo ouvi uma conversa sobre esse tipo de...
relacionamento, onde o cara tem uma mulher em casa e a puta no escritório...
Ele me corta:
— Você não é...
— Não sou mesmo. Posso ser libertina, depravada, mas não puta. Porque
puta, é aquela que sai com homens comprometidos e sabem de seus
relacionamentos. Eu não sou assim, Noah, eu não quero ser assim. Porque a
traição dói demais. Acredite em mim, já estive do outro lado.
Ele passa a mão pelo cabelo.
— Eu a quero, Madison.
— Você não quer a mim, você quer somente sexo. Segundo os comentários,
isso tem sido artigo de luxo para você. Como eu já imaginava, a Mortícia não anda liberando o Primo Which. Eu nem sou mulher de
relacionamentos, não quero um. Mas também não vou atrapalhar a história de
outro. Não sou vagabunda, a ponto de me meter na história de alguém.
Caminho até a janela e passo a mão pelo pescoço, agoniada. Sinto sua
presença e sei que ele está se aproximando. Suas mãos correm a lateral do meu
corpo, que reconhece seu toque.
— Não fuja de mim, Madison...
Por mais que eu não quisesse, sou obrigada. Minha consciência pesa
demais com essa situação e prefiro uma consciência limpa, do que estar
satisfeita às custas do sofrimento dos outros. Mesmo que esses “outros”, seja a
cadela da Carly.
Ele puxa meu corpo para o dele, com seu peito ficando nas minhas costas.
Deito minha cabeça em seu ombro e ele acaricia meu pescoço com seu nariz.
Aproveito cada segundo disso, porque será a última vez que ele me tocará. Noah
faz uma trilha de beijos pelo meu pescoço, alternando com pequenas e leves
mordidas. Fazendo-me desejosa, cruelmente desejosa por ele.
— É a cena mais bonita que já vi na minha vida – nos assustamos com a
voz de Benjamin, que entra com Alyssa em seu encalço — Eu sabia que estava
rolando alguma coisa entre vocês.
— Carly está te procurando, Noah – Aly vai até ele e limpa sua boca —
Vai encontrá-la, antes que ela...
— O que está acontecendo aqui? – Carly aparece — Noah, o que está
acontecendo aqui?
— Cansamos daquele carnaval lá fora. Viemos dar um tempo aqui – ele
responde sem tirar os olhos de mim.
Ela o abraça.
— Está na hora do bolo, amor. Vem comigo.
Ele assente para ela e faz um gesto, pedindo um minuto e volta-se para
mim.
— Tem certeza, Madison? – aceno que sim e ele continua — Adeus,
senhorita Harver.
— Adeus, excelência.
Assim que o casal sai os dois remanescentes ficam olhando para mim, provavelmente
esperando alguma explicação. Viro-me para a janela novamente e contemplo o
jardim frontal iluminado. Aquele adeus é figurativo, nos veremos todos os dias.
O adeus, foi para os seus toques, seus beijos... E por mais que me doa, era
necessário o ponto final.
Eu já vi algumas histórias assim, se eu ceder, ele continuará a trai-la
e eu serei a puta que sempre abominei. Se ele mexe comigo? Mexe. O cara é a
personificação da luxúria. Por mais que eu seja liberal, a traição é meu
limite.
— Está tudo bem, Mad? – a doce voz de Alyssa interrompe minha lástima.
— Estou. Vamos comer bolo? – falo sorrindo.
Ben assente e fala:
— Tem gente para tudo nessa vida. Eu não como, só a má vontade da Carly
pode intoxicar uma cidade inteira.
Saímos rindo do escritório e fomos em direção a tenda onde estavam
cantando os parabéns. Coloco-me entre Benjamin e Rebecka para ver Carly,
assoprar a vela de um bolo gigantesco. Logo depois, Noah lhe entrega um estojo
azul, que ela abre e faz cara de surpresa. Então, abraça-o e limpa as lágrimas
de emoção. Será que as lágrimas são verdadeiras? Balanço a cabeça para limpar
os pensamentos descabidos.
Carly vira o estojo para os convidados verem um conjunto com brincos,
colar e anel de ouro branco com diamantes rosa. Pela ovação das pessoas,
deveria ser caríssimo. Sinto alguém me observar e olho para os lados, até
encontrar Noah encarando-me.
— Se eu tinha dúvidas de que Noah amava, agora não tenho mais – Rebecka
fala para nós — Porque aquelas joias custam no mínimo um milhão de dólares.
Benjamin se engasga e Alyssa o ajuda dando pequenas batidas em suas
costas.
— O que? – Chris pergunta horrorizado — Um milhão de dólares para aquela
mulher? Internem o Noah!
Um senhor baixo e sorridente demais, pergunta em voz alta:
— Quando você fará minha filha, uma mulher direita, Noah?
Benjamin não perde a oportunidade:
— Se ele tiver juízo, nunca!
Todos riem e Carly olha para nossa direção com ódio. Acho que já está na
hora de ir embora. Viro-me para sair, vejo Ben e Alyssa olhando para mim. Eu
pude ler o lamento nos olhos dela e compreensão nos olhos dele. Graças à Deus
que ninguém pode ler o que se passa dentro de mim. Chris e Becka viram-se para
a cena, depois olham para mim, entendendo. Rebecka coloca a mão na boca.
— O que foi? – olho a minha roupa para ver se há algo de errado.
— Desconfiava que havia algo entre os dois. Era só falar na ruiva, que o
humor dele mudava. Outro dia o filho da puta queria me esmurrar porque falei
que na cama, Madison seria uma loucura – Christopher estende a mão para mim —
Homens pensam esse tipo de coisa, princesa. Mesmo das amigas.
Passo a mão pela minha trança, ajeito o vestido e percebo que ainda
estão olhando para mim. Pelo jeito as pessoas conseguem me ler. Vou em direção
ao estacionamento e eles me seguem. Minha intenção é falar e ir embora.
— Noah e eu, nos pegamos umas duas ou três vezes no gabinete e uma vez
aqui – faço um olhar de desculpas para Alyssa — O dia em que seu irmão foi para
os Hamptons e eu dormi aqui. Desci para tomar água, ele estava perambulando
pela casa e acabamos nos beijando.
Christopher e Benjamin se olham e começam a rir, Rebecka passa o braço
pelo meu ombro e Aly sorri. Ben toma a frente.
— É a confirmação de que os “opostos se atraem”. Alyssa viu o casal
entrar no escritório e em seguida a “Cardela” perguntou de Noah. Quando
entramos no lugar, vimos os dois abraçados. Cara, parecia cena de novela.
Reviro os olhos.
— Menos, Benjamin. Por favor, sem perguntas, sem comentários. Acabou.
Esse negócio de ficar se pegando, acabou.
— Por isso o adeus? – Alyssa pergunta.
Apenas aceno que sim. Tenho medo de abrir a boca e sair o que não deve.
Há coisas que devemos deixar ocultas, para que elas não se tornem reais.
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