Capítulo Quatorze
Madison
Ouço uma música estridente e chata perfurando os meus tímpanos e
acabando com meu sono da beleza. Abro os olhos e me dou conta que é o
despertador do meu celular.
Levanto-me, faço minha higiene e coloco um vestido de mangas compridas
para descer e tomar café. Será que devo ligar para o Noah? Acho melhor não, ele
deve estar revisando a palestra que dará mais tarde.
Faço meu caminho pelo hotel e vou até o salão principal para tomar café,
estou faminta! Subo novamente e mando um e-mail a Rebecka, com cópia para os
outros conselheiros sobre as melhorias no clube que anotei. Respondi e-mails da
Harriet, Alyssa e respondi em agradecimento a Cheryl. A hora passa e na
distração assusto-me com o toque do telefone do quarto.
— Oi.
— Bom dia, Madison. Quer almoçar comigo?
— Adoraria, Noah.
— Ótimo. Espero você na porta do quarto em dez minutos. E pelo horário,
acredito que não dará tempo de subirmos para nos arrumarmos novamente.
— Ok.
Para acompanha-lo nessa palestra, trouxe um terninho acinturado preto
com detalhes nos bolsos em vermelho, uma calça preta de alfaiataria de cintura
alta, também na cor preta e uma camisa transparente sobre um top, ambas as
peças em vermelho. Um scarpin preto
com solado vermelho completa minha roupa de trabalho. Os cabelos arrumei de uma
forma que parte dele foi preso para trás e o resto solto. Uma maquiagem leve,
lápis somente para marcar e rímel para dar uma ajeitada. Um gloss para não ficar com lábios ressecados
e estou pronta!
Pego minha bolsa, coloco meu estojo com itens de higiene e saio da suíte
dando de cara com o Noah e seu sorriso encantador. Descemos escoltados pelos
seguranças, que até agora não entendi o porquê. Na casa dele tem vários, mas
nenhum anda com ele, pelo menos não que eu tenha visto. Quando eles estão no
clube, a segurança é mais cautelosa também e dependendo do dia, Rebecka chama
os que estão de folga para trabalharem.
Fiz a besteira de olha-lo e vi que me encarava com um sorriso perverso.
Ele passou a língua sobre os dentes e um calafrio percorreu meu corpo. Esse
homem será minha desgraça. Assim que as portas abrem, saio rapidamente para
respirar direito. Acabei de me dar conta de que Noah mexe comigo muito mais do
que deveria e isso me assustou pra
caralho.
Sentamos em uma mesa mais reservada do salão e fizemos nosso pedido.
Olho para todos os lugares, menos para ele. Sei lá, tenho receio que ele veja
que estou louca por ele e acabe rejeitando-me ou pior, debochando como sempre
faz. Se o deboche fosse há vinte minutos atrás, não me atingiria. Pelo
contrário, só faria minha diversão. Mas agora, não mais. Não vindo dele.
— Algum problema, Madison? Está calada.
Dou meu melhor sorriso amarelo.
— Não é nada...
— Quero te agradecer pelos dias trabalhados na Corte. Você me
surpreendeu – não, baby. Quem me
surpreendeu agora, foi você!
— Não precisa agradecer. Como você disse outro dia, eu estava cumprindo
a...
Ele levanta a mão interrompendo-me.
— Mesmo assim. Poderia ter dificultado as coisas e ter feito da minha
vida um inferno, mas não fez. Pelo contrário, foi dedicada e alegrou meus dias
de várias maneiras – o safado pisca para mim. Certo, cansei de disfarçar, já
pode me jogar na mesa, rasgar minha roupa e mandar ver, bonitão.
— Obrigada por tudo, Noah. Eu adorei trabalhar com vo... todos.
Ele sorri. Ele me desarma. Ele me devasta... Fodeu!
Terminamos nosso almoço em cima da hora de ir para o local da palestra.
No caminho, enquanto Noah estava concentrado em seus papéis, meu pensamento foi
até Cheryl e dessa vez consegui sorrir com a sua vitória. Ela merece, aliás,
todas merecem seu “felizes para sempre”.
O auditório principal de Harvard
estava completamente lotado. Acredito que a maioria sejam estudantes de Direito
que vieram prestigiar o ilustre juiz senhor Noah Lancaster. Fui escoltada até a
primeira fileira e ele até o palco. Assim que subiu os degraus, todo o lugar
começou a aplaudi-lo de pé. Meu coração transbordou de tanto orgulho.
Primeiro o reitor falou e logo passou o microfone para Noah, que começou
seu belo discurso sobre “A
responsabilidade da sociedade em combater a violência”. Foram duas horas
debatendo o papel de cada um na luta contra o crime, na violência doméstica e a
parte mais tensa foi sobre o porte de armas, que Noah é veemente contra.
No final, Noah foi ovacionado pela sua convicção e compromisso com a
sociedade. Há muito tempo não via alguém falar com tanta paixão sobre seu
trabalho. Todos queriam cumprimenta-lo, tirar fotos ao seu lado e foi aí que
entendi os seguranças. Fiquei sentadinha na minha, só olhando de longe.
Depois de algum tempo, ele já havia descido do palco, mas as pessoas
ainda o cercavam. Seu olhar encontrou o meu e seu sorriso aqueceu meu coração.
Falei de longe somente movimentando a boca, “parabéns”. Noah deixou todos de
lado e veio em minha direção.
— Está tudo bem? Cuidaram bem de você?
A equipe responsável pela visita, que não desgrudava do nosso pé um
minuto, respondeu por mim. Capaz que fariam alguma coisa de errado para chatear
a autoridade máxima aqui. Meu telefone tocou na mesma hora em que ele se virou
para falar com alguém ficando de costas para mim, mas segurando meu dedo.
Atendo Alyssa, empolgada até...
— Madison? Não acredito.
Viro-me na direção da voz e quem não acredita sou eu. Laurine, a prima
cadela do Frederick que peguei transando com ele na nossa casa. Desligo o
telefone sem me despedir e solto a mão do Noah. Tento manter a calma, mas todo
o meu passado volta como uma enxurrada levando meu bom humor embora.
— Laurine, como está? – pergunto sem graça.
— Estou muito bem – ela mostra-me sua aliança de casamento — Casei com
Dereck. Ele é advogado aqui em Boston, trabalha em uma das firmas mais
importantes daqui.
Ela consegue ser ainda mais ridícula que antes. Seu cabelo loiro preso
como o da minha vó, uma roupa reta muito parecida com as da minha mãe. Isso
tudo para cobrir seu passado negro e seu caráter sem vergonha. Um cara alto,
magro e desengonçado aproxima-se de nós. Laurine fala:
— Querido, essa é Madison Harver. Madison, esse é o meu marido, Doutor
Dereck McRoy.
— Muito prazer – cumprimento o pobre coitado.
— O prazer é meu, Madison. De onde vocês se conhecem? – ele pergunta
para a esposa.
E a cadela responde:
— Lembra daquela história que te contei que a noiva do Fred, meu primo, surtou?
Então, é ela! – a filha da puta fala na maior cara de pau apontando para mim.
— Surtei depois que peguei ele na nossa cama me traindo – falo olhando
para a cadela que empalidece.
Então, ela solta a bomba que acaba com o meu dia.
— Você soube do seu pai? Ah, desculpa, esqueci que vocês não têm mais
contato. Bom, seu pai teve um infarto há pouco mais de um mês.
Naquele exato momento meu mundo começa a ruir. Noah vira-se e passa seu
braço pela minha cintura olhando-me preocupado.
— O que houve, Madison? – ele pergunta. Depois olha para o casal a minha
frente, volta-se para mim e acaricia meu rosto com as costas do dedo indicador
— Está pálida.
Fecho os olhos para recuperar a compostura.
— Noah, esses são Laurine e o seu marido Dereck...
— Doutor Dereck. Ele é advogado em uma das maiores firmas de Boston – a
palhaça me interrompe.
O marido dela estende a mão para Noah, maravilhado. Dereck olhava para
ele como se fosse seu ídolo.
— Meritíssimo Noah Lancaster. Meu Deus, é uma honra conhecê-lo. Venho
lutando para conseguir participar de uma de suas palestras. Consegui hoje na
última hora por desistência de alguém.
Noah aperta a mão dele, sorri e olha para mim com curiosidade.
— Laurine é a prima do meu ex noivo – ele não entende na hora, ficou
olhando-me como se quisesse mais informações. Então, a ficha caiu e ele sorriu.
Beijou a minha cabeça e apertou minha cintura.
O marido dela não para de falar:
— O valor do jantar da homenagem é caríssimo, mesmo assim Laurine e eu
conversamos e decidimos que esvaziar nossa poupança para ir era um bom negócio,
mas a fila de espera é enorme.
— Podemos resolver isso. Afinal, amigos da minha mulher são meus amigos
também – ele faz sinal para o cara que é responsável por conseguir o que Noah
quiser. Gente rica é outro nível — Encaixe eles na minha mesa no sábado à
noite.
O cara fica sem jeito e fala:
— Impossível, excelência. Talvez em alguma mesa ao lado, pode ser?
Noah sorri.
— Pode sim. Obrigado. Agora se vocês nos dão licença, temos muitos
compromissos e queremos descansar um pouco. Foi um prazer conhecê-los.
Noah leva-me para longe, antes que eu pudesse me despedir. Só que eu
queria voltar, queria saber do meu pai. E as lágrimas caem, muitas delas e
junto vai o meu autocontrole. Noah abraça-me forte e o carro surgiu do nada
para tirar-nos dali. Ele senta ao meu lado e aperta-me forte, como se pudesse
me proteger do que estava acontecendo.
— Madison, eu preciso saber o que está acontecendo, anjo. Por favor,
Mad, diga-me.
— Me-meu p-pai...
Ele me abraça mais forte e passa sua mão pelas minhas costas, na
tentativa de acalmar-me. Aos poucos, minhas lágrimas vão cessando. Noah
acaricia meus cabelos, beija minha cabeça e espera até que eu tenha condição de
falar.
— Está melhor? – pergunta.
Limpo meu rosto com o lenço que ele oferece.
— Obrigada e me desculpa pelo show. Laurine me contou que o meu pai teve
um infarto há pouco tempo – nesse momento sinto-me perdida, sozinha. Olho para
a paisagem que passa rapidamente pela janela do carro.
— Chris, eu preciso de informações sobre uma pessoa – volto-me para Noah
que está ao celular — Como sua equipe é mais rápida que a minha e você tem bons
contatos, preciso que faça isso por mim. Quero saber o estado de saúde do pai
da Madison – ele olha para mim — Como é nome completo dele, Mad?
— Harry Harver.
— Chris, Harry Harver. Ok. Fico te devendo essa, cara.
Assim que ele desliga, abraço-o forte.
— Obrigada!
— Não tem porque agradecer – ele seca as lágrimas remanescentes do meu
rosto — Eu nunca gostei de ver uma mulher chorar. E ver a sua tristeza,
Madison, me fez ficar desesperado.
O resto do trajeto ficamos em silêncio, mas ele não soltou minha mão nem
por um minuto. Subimos em direção as nossas suítes, estava indo em direção a
minha e ele puxa-me para dele.
— Não vai ficar sozinha, Madison – Noah olha em seu relógio — Temos mais
duas horas até o jantar. Vem, vamos descansar.
Entramos em sua suíte e ele já vai tirando seu terno e abrindo a camisa.
Desvio meu olhar do seu corpo e tiro meu terninho, abro dois botões da minha
camisa e sento na cama. Noah vem em minha direção apenas de calça e meu desejo
acorda, gritando por ele. Tento manter a compostura, pego controle da televisão
e o filme que está passando não ajuda.
Ele puxa-me pela mão e quando estou de pé, Noah abre os botões restantes
da minha camisa, jogando-a de lado e deixando-me apenas com o top. Abaixa-se e
tira os meus sapatos, beijando cada pé. Por fim, tira minha calça e a coloca
perto da camisa. Coloca as cobertas para trás, aponta para que eu deite e
cobre-me.
Ele deita-se ao meu lado, mas por cima da coberta e coloca uma mecha de
cabelo atrás da minha orelha. Seus gestos não têm nada de sexual, o que é uma
pena. Seu carinho e cuidado nesse momento estão mexendo muito comigo.
Fazendo-me sentir coisas que eu não queria, não deveria... Como se pudesse ler
meus pensamentos, ele fala:
— Eu queria muito estar dentro de você. Acho que nunca quis tanto alguma
coisa como quero isso, mas não seria certo, ruiva. Você ficou abalada com a
notícia do seu pai e grata por eu ter falado com o Chris. Não quero
aproveitar-me da sua fragilidade e muito menos quero que faça sexo comigo por
gratidão. Se depois de tudo, você ainda querer ficar comigo, estarei aqui
esperando.
— Como você pode ser tão perfeito, Noah? – traço seus lábios com o polegar.
— Sou mesmo, não é? Meus pais têm grande participação nisso – ele fala
rindo — Descanse, princesa – o celular dele toca, ele alcança e atende — Fala,
Chris. Sim. Certo. Poderia repetir tudo a ela? Obrigado, irmão.
Noah passa seu telefone para mim:
— Oi, Chris.
— Oi, princesa. Como está?
— Bem...
— Madison, o seu pai sofreu um leve infarto há dois meses. Passou por
uma cirurgia que foi bem-sucedida, sua recuperação foi impressionante. Foi para
casa logo em seguida e a equipe que esteve lá, disse que ele está muito bem.
Sem sequelas.
Solto a respiração, sentindo-me aliviada e as lágrimas voltam a correr.
— Obrigada, Chris. Não sei o que posso fazer para te compensar... – um
soluço escapa.
— Basta ficar bem e parar de chorar. Consegue fazer isso por mim?
— Sim... – como esse homem com cara de mal, pode ser tão doce?
— Noah vai cuidar de você. Fique bem, princesa.
— Obrigada. Beijos.
Desligo e passo o celular para Noah, que vira-me de costas e encaixa meu
corpo ao seu. Passa seu braço pela minha cintura e beija meu cabelo.
— Durma, Madison. Descanse.
Eu nunca me senti tão protegida, tão cuidada. Não lembro do dia em que
alguém fez algo assim, somente por ser meus amigos. Adormeci com um pensamento:
“Nos braços de Noah, sinto-me em casa”.
Acordo me sentindo maravilhosamente bem e sou presentada com a visão do
Noah de cabelos molhados, enrolado na toalha apreciando a vista da cidade. Eu
poderia contempla-lo para sempre. Levanto, alcanço a minha calça e a coloco.
— Não vi você acordar. Como se sente? – ele fala vindo em minha direção.
— Estou bem. Obrigada por tudo o que fez por mim – aponto para a porta,
sem jeito — Eu vou indo, tenho que me arrumar para o jantar.
Ele olha no celular e fala:
— Você tem quarenta minutos ainda.
Ele aproxima-se, passa seus braços pela minha cintura puxando-me para
si. Automaticamente, enrolo meus braços em seu pescoço e o beijo. Sinto seu
membro endurecer por debaixo da toalha e o meu desejo aumenta. E a realidade
que é uma cadela, bate em minha cara. Desvencilho-me de Noah.
— Desculpa, Noah. É que...
— É que?
Viro-me pegando minhas roupas e falo:
— Você tem namorada e...
Noah cola seu corpo ao meu e suas mãos correm pelo meu corpo, fazendo um
arrepio me percorrer e um gemido sair por entre meus dentes. Ele beija meu
pescoço, aperta meus seios e os meus pensamentos estão cada vez mais ilógicos.
Ele morde a minha orelha e fala em meu ouvido:
— Não existe mais Carly. Agora é somente você e eu, ruiva – ele bate em
minha bunda — Vai se arrumar. Depois conversamos.
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